sexta-feira, 30 de março de 2012

Como faz falta


Na última semana o Brasil perdeu um de seus maiores artistas de todos os tempos. Além do seu humor insubstituível, vamos sentir falta também da generosidade de Chico Anísio.
Uma de suas maiores preocupações era dar oportunidade para quem tinha talento. Na Escolinha do Professor Raimundo, como sabemos, ele deu voz a vários humoristas mais velhos que estavam sumidos e ainda revelou vários novos artistas. Em meio a várias homenagens prestadas, nos últimos dias, uma entrevista com Lúcio Mauro Filho me chamou atenção: ele contou como Chico foi fundamental pra sua carreira graças a um "puxão de orelha" que lhe deu um certo dia no Projac. Lúcio estava em um momento de indefinição, tinha feito vários testes para participar de novelas, quando Chico o questionou: "Até quando você vai ficar desperdiçando seu talento fazendo outras coisas"? - a partir daí Lúcio resolveu se dedicar ao que fazia melhor, o humor.

Pessoas como Chico são cada vez mais necessárias e mais difíceis de encontrar!

domingo, 18 de março de 2012

Se me esqueceres

Quero que saibas
uma coisa.

Sabes como é:
se olho
a lua de cristal, o ramo vermelho
do lento outono à minha janela,
se toco
junto do lume
a impalpável cinza
ou o enrugado corpo da lenha,
tudo me leva para ti,
como se tudo o que existe,
aromas, luz, metais,
fosse pequenos barcos que navegam
até às tuas ilhas que me esperam.

Mas agora,
se pouco a pouco me deixas de amar
deixarei de te amar pouco a pouco.

Se de súbito
me esqueceres
não me procures,
porque já te terei esquecido.

Se julgas que é vasto e louco
o vento de bandeiras
que passa pela minha vida
e te resolves
a deixar-me na margem
do coração em que tenho raízes,
pensa
que nesse dia,
a essa hora
levantarei os braços
e as minhas raízes sairão
em busca de outra terra.

Porém
se todos os dias,
a toda a hora,
te sentes destinada a mim
com doçura implacável,
se todos os dias uma flor
uma flor te sobe aos lábios à minha procura,
ai meu amor, ai minha amada,
em mim todo esse fogo se repete,
em mim nada se apaga nem se esquece,
o meu amor alimenta-se do teu amor,
e enquanto viveres estará nos teus braços
sem sair dos meus.

Neruda

quarta-feira, 14 de março de 2012

Cisnes

A vida, manso lago azul algumas

Vezes, algumas vezes mar fremente,

Tem sido para nós constantemente

Um lago azul sem ondas, sem espumas.



Sobre ele, quando, desfazendo as brumas

Matinais, rompe um sol vermelho e quente,

Nós dois vagamos indolentemente,

Como dois cisnes de alvacentas plumas.



Um dia um cisne morrerá, por certo:

Quando chegar esse momento incerto,

No lago, onde talvez a água se tisne,



Que o cisne vivo, cheio de saudade,

Nunca mais cante, nem sozinho nade,

Nem nade nunca ao lado de outro cisne!


Júlio Salusse