quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Imagine

Outro dia, em Nova York, passando em frente ao edifício Dakota, onde viveu e foi assassinado John Lennon, eu me peguei pensando como seria se ele fosse um compositor brasileiro.
No meu devaneio, imaginei-o cantando algo assim:

Imagine que não há mensalão
É fácil se você tentar
Sessenta e cinco impostos a menos
Para você pagar

Imagine seu salário
Pagando as contas e sobrando
Imagine que não há corrupção
Não é difícil
Nada de drogas e crimes
Educação de primeira

Imagine seu salário
Sobrando no final do mês
Você pode dizer
Que sou um sonhador
Mas eu não sou o único
Espero que um dia
Você se juntará a nós
E o Brasil será melhor

Imagine bons aeroportos
Será que você consegue?
Nada de fome ou miséria
E infraestrutura de primeira

Imagine seu salário
Sobrando no final do mês

Você pode dizer
Que sou um sonhador
Mas eu não sou o único

Espero que um dia
Você se juntará a nós
E o Brasil será melhor

Pena que John Lennon não foi um compositor brasileiro. Talvez, não tivesse sido assassinado e hoje estaria tomando cuidado com as balas perdidas.

Ricardo Amorim

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Vivemos num tempo...

Vivemos num tempo de chantagem universal,
Que toma duas formas complementares de escárnio:
Há a chantagem da violência e a chantagem do entretenimento.
Uma e outra servem sempre para a mesma coisa:

Manter o homem simples longe do centro dos acontecimentos.

Ortega y Gasset

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Soneto 166

De almas sinceras a união sincera
Nada há que impeça: amor não é amor
Se quando encontra obstáculos se altera,
Ou se vacila ao mínimo temor.

Amor é um marco eterno, dominante,
Que encara a tempestade com bravura;

É astro que norteia a vela errante,
Cujo valor se ignora, lá na altura.

Amor não teme o tempo, muito embora
Seu alfange não poupe a mocidade;

Amor não se transforma de hora em hora,
Antes se afirma para a eternidade.

Se isso é falso, e que é falso alguém provou,

Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou.

Skakespeare

terça-feira, 26 de junho de 2012

O que fazer com a ética?

Sou advogado, estou batalhando para conseguir minha posição no mercado. Sempre procurei agir com a maior dignidade possível, acreditando que meus princípios deveriam vir em primeiro lugar, mas venho enfrentando problemas por essas convicções. De repente me deparo com o seguinte caso: Defender um dos empresários mais bem sucedidos da cidade, dono de uma rede de supermercados que agrediu covardemente a mulher e os filhos. Um bom resultado seria muito importante pra minha carreira, aumentaria minha credibilidade e consequentemente o número de clientes – O que fazer com a ética?

Sou jornalista, venho buscando "fazer meu nome" para enfim consolidar minha carreira e não sofrer tanto com a instabilidade tão peculiar à minha profissão. Preciso ser protagonista de algum acontecimento importante, revelar algum escândalo, dar um furo, sei lá, fazer algo que ninguém esqueça, mesmo que para isso use meios não muito corretos, minta, prejudique pessoas – O que fazer com a ética?





Sou médico, me formei já há alguns anos, trabalhei por um tempo na rede pública, com salários pouco atrativos, e muitos plantões, enfim sentia que todo o tempo dedicado à medicina não estava sendo valorizado. Outro dia, acordei com uma notícia muito boa: havia sido selecionado para trabalhar em uma das clínicas mais renomadas da região, que conta com uma infra-estrutura invejável. Estava indo tudo muito bem em meu novo local de trabalho até que um dia me deparei com uma cena que me desagradou muito: Passando pela recepção do hospital vejo os funcionários negarem atendimento a um senhor que não tinha convênio e estava sofrendo um infarte, a família insistia mas eles se mantiveram irredutíveis – O que fazer com a ética?

Sou arquiteta de profissão e vocação. Meu objetivo sempre foi poder fazer projetos que pudessem promover a felicidade das pessoas em algo tão importante na vida de todos que é a moradia. Enfrentei um pouco de dificuldade ao me formar, mas logo depois conseguir montar meu escritório e realizar meu sonho. Em alguns meses do ano as coisas são mais tranquilas porque fechamos um número razoável de contratos. Mas às vezes as coisas complicam um pouco e passamos um certo aperto para não ficarmos no vermelho. Esse mês fomos procurados por um cliente que fez uma proposta tentadora do ponto de vista financeiro, e caso fechemos será o contrato mais alto do escritório até agora. Precisamos desenvolver o projeto para um prédio residencial para moradores de baixa renda, a primeira vista nada de mais, o problema é que depois de analisar as condições que os construtores impuseram me abateu um certo desânimo - os apartamentos terão que ser muito pequenos, não proporcionado às famílias condições mínimas de conforto.

O que fazer com a ética?



segunda-feira, 4 de junho de 2012

Bolsa de grife






Comprei uma bolsa de grife
Mas ouçam que cara de pau:
Ela disse que ia me dar amor.
Acreditei, que horror!
Ela disse que ia me curar a gripe
Desconfiei, mas comprei.
Comprei a bolsa cara pra me curar do mal.
Ela disse que me curava o fogo.
Achei que era normal.
Ela disse que gritava e pedia socorro.
Achei natural.

Ainda tenho a angústia e a sede.
A solidão, a gripe e a dor.
E a sensação de muita tolice
nas prestações que eu pago
pela tal bolsa de grife.


Nem pensei
Impulso
Pra sanar um momento
Silenciar barulhos.
Me esqueci de respirar
Um, dois, três.
Eu paro.
Hoje sei que tenho tudo.
Será?
Escrevi em meu colar
dentro há o que procuro.

Meu amigo comprou um carro pra se curar do mal...



Vanessa da Mata

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Novas Mídias

Às vezes me perguntam como eu, escritor e roteirista,
reajo ao poder das novas tecnologias que transformaram
o mundo da palavra escrita.

Eu me divirto inventando uma história em que em meados do
século 19 alguém pergunta a Gustave Flaubert, grande escritor,
se a substituição da pena de ganso pelas canetas com pena de
metal mudou a literatura francesa. E faço Flaubert responder:

Acho que não, mas mudou a vida dos gansos...


Jean - Claude Carrière

segunda-feira, 28 de maio de 2012

O Vampiro de Curitiba

Imagino que todo artista, independente da categoria, sonha em ter seu trabalho reconhecido e premiado. O momento do merecido aplauso deve ser aguardado com ansiedade, sempre pensei, até ouvir falar de Dalton Trevisan, escritor curitibano ganhador do prêmio Camões de Literatura desse ano. Grandes nomes como o de Jorge Amado, Lygia Fagundes Teles, Ferreira Gullar, entre outros, já foram honrados com o prêmio, mas nem mesmo a grandeza da premiação fez com que Trevisan, que completa 87 anos no próximo dia 14, abrisse uma exceção: Não concedeu sequer uma entrevista, para tristeza dos jornalistas que inutilmente tentaram.




Nesse momento atual em que vivemos o Império da Imagem, tudo que Dalton menos quer é aparecer. Um dos seus mais conhecidos livros é " O Vampiro de Curitiba", que acabou se tornando também seu codinome devido a sua vida extremamente reclusa. Pra se ter uma ideia a sua última foto data de 1972, isso mesmo, já se passam 40 anos desde seu último registro fotográfico oficial, algo inimaginável para nossos dias.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Aos amigos

Não posso dar-te soluções
Para todos os problemas da vida,
Nem tenho resposta
Para as tuas dúvidas ou temores,
Mas posso ouvir-te
E compartilhar contigo.

Não posso mudar
O teu passado nem o teu futuro.
Mas quando necessitares de mim
Estarei junto a ti.

As tuas alegrias
Os teus triunfos e os teus êxitos
Não são os meus,
Mas desfruto sinceramente
Quando te vejo feliz.
Não julgo as decisões
Que tomas na vida,
Limito-me a apoiar-te,
A estimular-te
E a ajudar-te sem que me peças.

Não posso traçar-te limites
Dentro dos quais deves atuar,
Mas sim, oferecer-te o espaço
Necessário para cresceres.

Não posso evitar o teu sofrimento
Quando alguma mágoa
Te parte o coração,
Mas posso chorar contigo
E recolher os pedaços
Para armá-los novamente.
Não posso decidir quem foste
Nem quem deverás ser,
Somente posso
Amar-te como és
E ser teu amigo.

Todos os dias, penso
Nos meus amigos e amigas,
Não estás acima,
Nem abaixo nem no meio,
Não encabeças
Nem concluís a lista.
Não és o número um
Nem o número final.

E tão pouco tenho
A pretensão de ser
O primeiro
O segundo
Ou o terceiro
Da tua lista.
Basta que me queiras como amigo.
Dormir feliz.
Emanar vibrações de amor.
Saber que estamos aqui de passagem.
Melhorar as relações.
Aproveitar as oportunidades.
Escutar o coração.
Acreditar na vida.

Obrigado por seres meu amigo.


Jorge Luis Borges

sexta-feira, 30 de março de 2012

Como faz falta


Na última semana o Brasil perdeu um de seus maiores artistas de todos os tempos. Além do seu humor insubstituível, vamos sentir falta também da generosidade de Chico Anísio.
Uma de suas maiores preocupações era dar oportunidade para quem tinha talento. Na Escolinha do Professor Raimundo, como sabemos, ele deu voz a vários humoristas mais velhos que estavam sumidos e ainda revelou vários novos artistas. Em meio a várias homenagens prestadas, nos últimos dias, uma entrevista com Lúcio Mauro Filho me chamou atenção: ele contou como Chico foi fundamental pra sua carreira graças a um "puxão de orelha" que lhe deu um certo dia no Projac. Lúcio estava em um momento de indefinição, tinha feito vários testes para participar de novelas, quando Chico o questionou: "Até quando você vai ficar desperdiçando seu talento fazendo outras coisas"? - a partir daí Lúcio resolveu se dedicar ao que fazia melhor, o humor.

Pessoas como Chico são cada vez mais necessárias e mais difíceis de encontrar!

domingo, 18 de março de 2012

Se me esqueceres

Quero que saibas
uma coisa.

Sabes como é:
se olho
a lua de cristal, o ramo vermelho
do lento outono à minha janela,
se toco
junto do lume
a impalpável cinza
ou o enrugado corpo da lenha,
tudo me leva para ti,
como se tudo o que existe,
aromas, luz, metais,
fosse pequenos barcos que navegam
até às tuas ilhas que me esperam.

Mas agora,
se pouco a pouco me deixas de amar
deixarei de te amar pouco a pouco.

Se de súbito
me esqueceres
não me procures,
porque já te terei esquecido.

Se julgas que é vasto e louco
o vento de bandeiras
que passa pela minha vida
e te resolves
a deixar-me na margem
do coração em que tenho raízes,
pensa
que nesse dia,
a essa hora
levantarei os braços
e as minhas raízes sairão
em busca de outra terra.

Porém
se todos os dias,
a toda a hora,
te sentes destinada a mim
com doçura implacável,
se todos os dias uma flor
uma flor te sobe aos lábios à minha procura,
ai meu amor, ai minha amada,
em mim todo esse fogo se repete,
em mim nada se apaga nem se esquece,
o meu amor alimenta-se do teu amor,
e enquanto viveres estará nos teus braços
sem sair dos meus.

Neruda

quarta-feira, 14 de março de 2012

Cisnes

A vida, manso lago azul algumas

Vezes, algumas vezes mar fremente,

Tem sido para nós constantemente

Um lago azul sem ondas, sem espumas.



Sobre ele, quando, desfazendo as brumas

Matinais, rompe um sol vermelho e quente,

Nós dois vagamos indolentemente,

Como dois cisnes de alvacentas plumas.



Um dia um cisne morrerá, por certo:

Quando chegar esse momento incerto,

No lago, onde talvez a água se tisne,



Que o cisne vivo, cheio de saudade,

Nunca mais cante, nem sozinho nade,

Nem nade nunca ao lado de outro cisne!


Júlio Salusse

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Tempos Modernos


Acordar, levantar, escolher a roupa, ir trabalhar.
Chegar, organizar, ajeitar, nada pode sair da rotina.
Fazer muitas coisas ao mesmo tempo,sempre do mesmo jeito.

Há espaço para algo diferente?

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Felicidade

Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário.
Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se o achar, segure-o!


Fernando Pessoa

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

A história se repete



Muito se tem falado sobre a retirada das tropas americanas do Afeganistão. A opinião de duas mulheres afegãs chamou minha atenção há alguns dias e me fez refletir um pouco sobre o tema: De um lado Malalai Joya, considerada a mulher mais corajosa do país, eleita ao parlamento em 2005 e expulsa do mesmo em 2007 por fazer duras críticas à ocupação americana.


De outro Fawzia Koofi, eleita a 1ª vice presidente do Parlamento Afegão, provável candita as eleições presidencias em 2014, que teme que a saída das tropas abra caminho para o retorno dos Talibãs ao poder. Ambas tem em comum uma vida de lutas pelos direitos das mulheres no país, mas divergem em relação a essa importante questão. Qual das duas opiniões reflete mais a realidade do povo afegão? Segundo Malalai Joya com a chegada das tropas a vida da população se tornou ainda pior porque precisam conviver agora com os abusos dos talibãs e dos soldados americanos, que já provocaram a morte de centenas de inocentes, desde a ocupação em 2001. Já na opinião de Fawzia Koofi as conquistas democráticas, especialmente em relação aos direitos das mulheres foram retomadas graças a invasão americana. Koofi acredita que a retirada das forças ocidentais do país não é algo positivo: "Os países vizinhos têm muita influência no nosso e tentarão criar instabilidade. Os talibãs estão se preparando para as eleições de 2014 e se eles ganharem, teremos perdido tudo o que conseguimos nestes anos todos", afirmou, em entrevista para a BBC de Londres.
Fico pensando se realmente a presença americana é a solução não só para países como Afeganistão e Iraque, mas para todas as nações oprimidas por ditaduras e regimes opressores, pois essa é a imagem que eles procuram sempre passar. A polêmica capa da Revista Time de Agosto de 2010 demostra bem esse fato: A manchete era "What happens if we leave Afghanistan? - "O que acontece se deixarmos o Afeganistão"? Ilustrada pela chocante foto de uma jovem de 18 anos que teve o nariz e orelhas mutilados pelo marido com o consentimento de um comandante talibã.



De fato acredito que a ocupação americana, sem dúvida, trouxe melhorias para o país, achar que nada mudou, ou tudo continua o mesmo de antes de 2001, é ser radical e anti-americano demais. Mas os avanços não podem esconder os excessos cometidos e nem ser motivo para acreditar que os Estados Unidos são os salvadores da pátria afegã.
Mais uma vez acredito que a história se repete. Esse papel de Messias ocupado pelos americanos é mostrado em vários filmes, sobre a 2ª Guerra Mundial, por exemplo. Sempre os americanos são os redentores que libertaram o mundo do terror nazista. Antes de estudar os reais motivos da entrada americana na guerra também acreditava nessa versão heróica tão divulgada pelo cinema, mas hoje vejo que as coisas não são tão simples assim. Acredito que por ainda serem a maior potência mundial e por terem uma democracia tão consolidada os Estados Unidos teriam sim condições de ajudar a combater as mazelas do mundo, mas a história já demostrou inúmeras vezes que esses ideais de justiça americanos só aparecem em determinados momentos oportunos...