quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

A história se repete



Muito se tem falado sobre a retirada das tropas americanas do Afeganistão. A opinião de duas mulheres afegãs chamou minha atenção há alguns dias e me fez refletir um pouco sobre o tema: De um lado Malalai Joya, considerada a mulher mais corajosa do país, eleita ao parlamento em 2005 e expulsa do mesmo em 2007 por fazer duras críticas à ocupação americana.


De outro Fawzia Koofi, eleita a 1ª vice presidente do Parlamento Afegão, provável candita as eleições presidencias em 2014, que teme que a saída das tropas abra caminho para o retorno dos Talibãs ao poder. Ambas tem em comum uma vida de lutas pelos direitos das mulheres no país, mas divergem em relação a essa importante questão. Qual das duas opiniões reflete mais a realidade do povo afegão? Segundo Malalai Joya com a chegada das tropas a vida da população se tornou ainda pior porque precisam conviver agora com os abusos dos talibãs e dos soldados americanos, que já provocaram a morte de centenas de inocentes, desde a ocupação em 2001. Já na opinião de Fawzia Koofi as conquistas democráticas, especialmente em relação aos direitos das mulheres foram retomadas graças a invasão americana. Koofi acredita que a retirada das forças ocidentais do país não é algo positivo: "Os países vizinhos têm muita influência no nosso e tentarão criar instabilidade. Os talibãs estão se preparando para as eleições de 2014 e se eles ganharem, teremos perdido tudo o que conseguimos nestes anos todos", afirmou, em entrevista para a BBC de Londres.
Fico pensando se realmente a presença americana é a solução não só para países como Afeganistão e Iraque, mas para todas as nações oprimidas por ditaduras e regimes opressores, pois essa é a imagem que eles procuram sempre passar. A polêmica capa da Revista Time de Agosto de 2010 demostra bem esse fato: A manchete era "What happens if we leave Afghanistan? - "O que acontece se deixarmos o Afeganistão"? Ilustrada pela chocante foto de uma jovem de 18 anos que teve o nariz e orelhas mutilados pelo marido com o consentimento de um comandante talibã.



De fato acredito que a ocupação americana, sem dúvida, trouxe melhorias para o país, achar que nada mudou, ou tudo continua o mesmo de antes de 2001, é ser radical e anti-americano demais. Mas os avanços não podem esconder os excessos cometidos e nem ser motivo para acreditar que os Estados Unidos são os salvadores da pátria afegã.
Mais uma vez acredito que a história se repete. Esse papel de Messias ocupado pelos americanos é mostrado em vários filmes, sobre a 2ª Guerra Mundial, por exemplo. Sempre os americanos são os redentores que libertaram o mundo do terror nazista. Antes de estudar os reais motivos da entrada americana na guerra também acreditava nessa versão heróica tão divulgada pelo cinema, mas hoje vejo que as coisas não são tão simples assim. Acredito que por ainda serem a maior potência mundial e por terem uma democracia tão consolidada os Estados Unidos teriam sim condições de ajudar a combater as mazelas do mundo, mas a história já demostrou inúmeras vezes que esses ideais de justiça americanos só aparecem em determinados momentos oportunos...